Cantiga
Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.
Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d'alva
Rainha do mar.
Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.
Manuel Bandeira
Coisa Amar
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
Manuel Alegre
Raul Brandão
«Vou primeiro ao Baleal, que é a mais linda praia de terra portuguesa. Não passa duma grande rocha desligada da costa e fundeada a trezentos metros— mas esta rocha é uma ossada, e talvez o último vestígio da Atlântida, saindo do mar azul a escorrer azul e presa à terra por um fio de areia que nas marés mais vivas chega a desaparecer. Deste ancoradouro, com uma baía ao sul formada pelo Carvoeiro e com outro côncavo ao norte entre a rocha e a costa, vê-se o esplêndido panorama da terra, do mar e do céu. Vive-se extasiado e embebido em azul, no meio do mar azul, no meio do mar verde, no meio do mar dramático. Voga-se em toda a luz do céu e em toda a cor do mar. Dum lado, o areal em circo e aquele grande morra estendido pelo mar dentro; do outro, até onde a vista alcança, todos os tons da costa, desde as labaredas das terras sulfurosas e as chapadas negras dos rochedos, com riscos de vermelho, até ao biombo que vai passando e desmaiando, primeiro roxo com aldeias ao sol e fundos verdes de pinheiros, depois transparentes até atingir o indistinto e o diáfano numa última palpitação de claridade nublosa». E tudo isto muda de cor e se transforma segundo as horas passam. Há momentos em que é doirado, de manhã ou à hora do poente. Há outros em que me sinto abismado em azul e atascado em azul. O movimento das ondas esmorece e acalma. À volta só luz e cor. A costa some-se. Uma apoteose de oiro e verde lá no fundo. Do horizonte à praia corre e cintila a esplêndida estrada do sol. E agora - reparem! reparem! - o mar é verde e o céu perdeu a cor...»
Agosto de 1919 (Raul Brandão, Os Pescadores)
Cantiga
Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.
Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d'alva
Rainha do mar.
Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.
Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.
Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d'alva
Rainha do mar.
Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.
Manuel Bandeira
Coisa Amar
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
Manuel Alegre
Raul Brandão
«Vou primeiro ao Baleal, que é a mais linda praia de terra portuguesa. Não passa duma grande rocha desligada da costa e fundeada a trezentos metros— mas esta rocha é uma ossada, e talvez o último vestígio da Atlântida, saindo do mar azul a escorrer azul e presa à terra por um fio de areia que nas marés mais vivas chega a desaparecer. Deste ancoradouro, com uma baía ao sul formada pelo Carvoeiro e com outro côncavo ao norte entre a rocha e a costa, vê-se o esplêndido panorama da terra, do mar e do céu. Vive-se extasiado e embebido em azul, no meio do mar azul, no meio do mar verde, no meio do mar dramático. Voga-se em toda a luz do céu e em toda a cor do mar. Dum lado, o areal em circo e aquele grande morra estendido pelo mar dentro; do outro, até onde a vista alcança, todos os tons da costa, desde as labaredas das terras sulfurosas e as chapadas negras dos rochedos, com riscos de vermelho, até ao biombo que vai passando e desmaiando, primeiro roxo com aldeias ao sol e fundos verdes de pinheiros, depois transparentes até atingir o indistinto e o diáfano numa última palpitação de claridade nublosa». E tudo isto muda de cor e se transforma segundo as horas passam. Há momentos em que é doirado, de manhã ou à hora do poente. Há outros em que me sinto abismado em azul e atascado em azul. O movimento das ondas esmorece e acalma. À volta só luz e cor. A costa some-se. Uma apoteose de oiro e verde lá no fundo. Do horizonte à praia corre e cintila a esplêndida estrada do sol. E agora - reparem! reparem! - o mar é verde e o céu perdeu a cor...»
Agosto de 1919 (Raul Brandão, Os Pescadores)
Sophia de Mello Breyner Andresen
Sophia no olhar dos outros
"Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi uma das poetisas portuguesas mais respeitadas entre outros artistas e autores. São diversas as publicações, os filmes, as músicas e as peças que abordam as obras e a própria autora ..."
Deserto
O Deserto é uma praia que,
por nostalgia,
se afastou do MAR.
in Mar, 2014
Afonso Cruz
Saber mais AQUI
MAR
«Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto do mar»
MarI
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
II
Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.
in Poesia, 1944
Sophia de Mello Breyner Andresen
in http://purl.pt/19841/1/1920/1920-1.html(05/11/2015-19:30)
I. O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Fernando Pessoa
Mensagem - Mar Português
MAR PORTUGUÊS
Possessio Maris
I. O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Fernando Pessoa
Tinhas um nome que ninguém temia: Eras um campo macio de lavrar Ou qualquer sugestão que apetecia... Tinhas um choro de quem sofre tanto Que não pode calar-se, nem gritar, Nem aumentar nem sufocar o pranto... Fomos então a ti cheios de amor! E o fingido lameiro, a soluçar, Afogava o arado e o lavrador! Enganosa sereia rouca e triste! Foste tu quem nos veio namorar, E foste tu depois que nos traíste! E quando terá fim o sofrimento! E quando deixará de nos tentar O teu encantamento! |
Miguel Torga
in "Poemas Ibéricos"
Inclinei-me para ver o mar. E vi apenas
uma mulher chorando
contra o quarto minguante de uma lua crescente. Mar, andei à tua procura esse imortal sorriso... porém não o encontrei.
Vinicius de Moraes,in "Poesia Completa e Prosa"
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